28.12.06

Sobre nada

Procurem-me, encontrem-me JÁ! Façam por mim o que não consigo fazer pelas minhas próprias mãos, permitam-me o cansaço da minha procura, que me faz desistir. Preciso de novos sítios para procurar, novas coisas para encontrar, mas devolvam-me tudo. Devolvam-me um brinquedo, devolvam-me o mar, devolvam-me a pequena mola com forma animal que a minha mãe usava para me prender os longos cabelos, façam de novo a vida (se é que alguma vez ela existiu) jorrar-me por todos os poros, façam as minhas mãos escrever, escrever com ou sem sentido, qualquer coisa que me atravesse, me inquiete. Pelos campos alheios arrasto uma sombra que me prolonga, indefinidamente me prolonga e me cansa, tão desesperadamente me cansa. Não quero mais cansaço, mais dores no meu corpo que se arrasta, mais metáforas para uma vida inútil. Quero apenas encontrar um Eu que vagueie, exista (talvez ainda mais inutilmente exista), sem qualquer consciência de ser, sem nada. Nada. Em todos os lugares comuns que possa ter (d)escrito há um pulsar incessante que não me deixa parar de bater nestas teclas sozinhas, cada uma de sua letra, sua autonomia.
Porque não me deixo dormir na esperança de um sonho que por fim me acorde, talvez de êxtase, talvez por descobrir qualquer coisa fascinante, linda? Já não quero saber, fartei-me de perguntas, apenas me acentuam a inutilidade e a incapacidade de qualquer coisa.
Desisti do sentido. Pouco me importa se tudo isto possui algum, esqueçam a lógica. Deixem-me em paz na minha fraca, infrutífera procura, também já não quero que procurem por mim.

1 comment:

Lu said...

onde estás?